Paraíso, 28 de Abril de 1361

Querido Pedro: Escrevo para te dizer que não suporto a dor de nos terem tirado o mundo, o nosso mundo. Como foram capazes de nos separar na Terra? Como foram capazes de me matar? A mim, que nada mais fiz senão amar? As saudades apertam e saber que não estás bem deixa-me cada dia mais triste e mais desolada. Sei que me vais amar para sempre e que a eternidade supera a minha morte. No entanto, saber que nunca mais vou poder tocar-te, nunca mais vou ter a oportunidade de te beijar, não consigo suportar a ideia de não te ter nos meus braços nunca mais! Todavia, eu sei que Deus nos vai voltar a unir no Paraíso, e que lugar lindo é este onde estou agora! Aqui, ninguém nos vai querer separar nem matar o nosso amor, com gestos cruéis e desumanos. Aqui só estão os melhores, os bons! Aqueles que se amaram e foram amados com toda a força, como nós nos amámos um ao outro. Evitaria falar deste assunto, mas, como deves imaginar, aqui eu tenho o conhecimento de todas as tuas atitudes e os teus sentimentos. E quero que saibas que eu sei como estás desamparado e com sede de vingança, mas não queria que julgasses aqueles que preferiram ver o meu coração partido quando me separaram de ti e de nossos filhos. Por muito horrível e desumano, eles não mereciam ter o mesmo fim! … Sei também que a tua intenção naqueles gestos não era crua e que tudo aquilo foi a vingança do nosso amor, foi, apenas, mais uma prova do teu sentimento por mim. Todavia, não concordei com a tua atitude!Pedro, eu amo-te e só tu sabes o tamanho da intensidade deste amor. Tu sabes que todo este tempo que passámos juntos contra tudo e todos foi tudo o que eu quis viver e vivi! Sou feliz, por me terem dado a hipótese de gerar descendência tua e minha, os nossos maravilhosos filhos, como estão crescidos! Oh, amor! Eu nunca estive contigo por um título que agora, depois de morta, me seja concedido. Estive e estou na eternidade do teu lado em nome do nosso amor, não pelo título, nem pela riqueza nem pela gula que te rodeia sem poderes controlar! Embora fique grata com a prova do teu amor, não era isso que eu ambicionava ao teu lado, simplesmente desejei que me desses tudo o que sempre deste … a felicidade!Amor, termino dizendo o que já foi referido, as imensas saudades que me atormentam! Saudades de te ter, saudades de te abraçar… amo-te como nunca ninguém amou alguém, o nosso amor merece ser vivido mesmo depois da morte!

Saudades.

Um beijo:

Tua sempre Inês de Castro