Cena IV
O Rei D. Pedro I encontrava-se no átrio do palácio encismado nos seus pensamentos. Nesse momento, apressadamente, entra um dos seus conselheiros com notícias. O Rei quase que não o ouviu. Depois ordenou-lhe que se sentasse para falarem sobre o que já há algum tempo evitavam.D. Pedro I com determinação afirmou:
Pedro- Tu sabes o quanto a morte de minha amada Inês foi marcante na minha vida. Perdi tudo o que me dava razão para viver e, agora, sinto que falta algo que eu não consigo atingir.
Conselheiro- Mas meu Senhor! Vossemecê tem tudo o que deseja, não lhe falta rigorosamente nada. Tem filhos, tem mulheres [e quem dera a mim ter um 1/3 das que o requisitam - à parte], tem riqueza, tem poder, obedecem-lhe. Que quer mais o meu senhor?!
Pedro – Falta-me o que eu considero de mais importante na vida, o amor! Falta ter Inês do meu lado para que eu me sinta completo. A dor da morte de Inês avassala-me o peito sempre que olho para o campo e recordo a nossa casa, o nosso ninho de amor onde passei os melhores tempos da minha vida. E não era um palácio, não tinha criados mas tinha o que há de mais importante na vida, o amor. Sabes do que falo? (pausa)
Conselheiro (interrompe o silêncio) - Sei, apesar do que possa pensar eu sei o que o Senhor meu amo está a sentir. A mágoa e a revolta de ter perdido a mulher que amava. A raiva por seu pai, D, Afonso, lhe ter roubado parte da vida porém, não se pode deixar abater por mágoas passadas. Tem de encarar a realidade meu Rei, tal como sempre fez e sempre nos habituou. Tem um reino para governar e toda a população acredita no seu valor e na sua força.
Pedro (a mágoa começa a aflorar-lhe nos olhos) - Lembraste do dia em que Inês faleceu nas mãos daqueles carrascos miseráveis? No dia em que tudo deixou de fazer sentido? Aquele dia em que eu queria ter morrido com a minha amada?
Conselheiro (desnorteado, sem saber o que dizer) – Lembro sim. Dia terrível! Mas porquê recordar esse sofrimento agora?
Pedro (ignora a pergunta do conselheiro) – Nesse dia eu jurei vingança! Recordas-te disso? (a crueldade reflecte-se no olhar de D. Pedro I).
Conselheiro (com certo receio do que possa vir a seguir) – Esse olhar assusta-me. Em que pensa?
Pedro (determinado) – Eu tenho estado a pensar na forma mais justa de vingar a morte da minha amada. Já o faço desde o dia da minha coroação uma vez que, antes de ser nomeado Rei, nada poderia fazer pois não me eram concedidos os poderes de decisão que hoje me pertencem. E como tu disseste, um reino inteiro me deve obediência e vassalagem. Todos aqueles que desejaram a morte de minha Inês por preconceito social, inveja ou pelo que for, todos esses vão estar presentes na minha derradeira revolta.
Conselheiro – mas … meu senhor? Já passaram tantos anos, as pessoas já esqueceram. Para quê mexer no passado? Isso só o fará sofrer ainda mais… E nada do que possa ordenar fará com que D. Inês volte.
Pedro – Tens razão! Nada me trará Inês mas poderei trazer de volta toda a sua dignidade que ficou perdida naquele mesmo dia! E … meu caro, o sofrimento que eu sinto vou sentir para sempre e é o mesmo desde aquele dia!
Conselheiro (arrependido do que dissera) – Peço desculpa! (silêncio)
Conselheiro - Que pensa fazer?
Pedro (altivo) – coroar Inês, fazê-la rainha deste Reino!
Conselheiro (surpreendido) – Mas como? Desculpe o que lhe vou dizer, mas ela está morta!
Pedro (revoltado) – Está morta para todos vós, filhos de ninguém e de pouca fé. Para mim, Inês encontra-se viva, não presente de corpo mas de espírito.
Conselheiro (medroso dado o tom de voz em que D. Pedro I lhe falara) – Descuullppee!(silêncio)
Pedro (determinado) – Eu ordeno que, o corpo de Inês seja retirado do túmulo onde se encontra. E que sejam construídos dois túmulos, que fiquem frente a frente, para que no dia do juízo final eu me encontre com a minha amada.
Conselheiro (estupefacto) – Não acha essa ideia um pouco estranha? O corpo de D. Inês provavelmente estará degradado neste momento! Seria penoso para quem o fosse retirar do túmulo e, além disso, ninguém viria a uma cerimónia destas! Provavelmente, ninguém concordará com isso e aqueles que desejaram a sua morte não vão apoiar a sua coroação mesmo depois de falecida.
Pedro (indignado) – Quem és tu para me dizer o que eu devo ou não fazer? Quem és tu para me julgar! Não passas de um mero criado. (silêncio)
Pedro (apesar de arrependido do que dissera, simplesmente baixa o tom de voz porém continua altivo) – Eu ORDENO que o corpo de Inês seja retirado do seu túmulo. Estás encarregue de organizar a cerimónia de coroação. Convoca todos os nobres do Reino, eles têm de estar presentes…
Conselheiro (interrompe) – Mas …
Pedro (ignora a interrupção) – Obriga-os a estar presentes, se fôr necessário ameaça-os de perderem todos os seus direitos ou bens, eles têm de estar presentes.
Conselheiro (submisso) – Sim meu Senhor. Mas para quando deseja a cerimónia?
Pedro – Para o próximo dia 25 de Abril .
Conselheiro (atrapalhado) – Já? Mas meu Rei assim não dará tempo para organizar tudo como pretende.
Pedro (decidido) – Sim. Nessa data tem de estar tudo pronto.(Pedro continua a falar quase que em monólogo visto que, o conselheiro simplesmente aceitava as ordens divagadas, apontando-as num papel para não se esquecer de coisa alguma e sem nunca pronunciar uma única palavra que contrariasse a vontade do Rei)
Pedro (altivo) – Quero que Inês seja arranjada com ligas, que a sentem no trono, que é o seu devido lugar, a mão tem de estar pousada para que, todos a possam beijar. Ordeno também às aias que a vistam com um dos melhores e mais ricos vestidos que alguma vez já se viu neste reino, a enfeitem com jóias e outros acessórios valiosos para que seja realçada toda a sua beleza. O vestido pretendo que seja de cor clara, assim irá salientar toda a sua pureza e lealdade interior. (pausa)
Pedro (continua) – Não te esqueças de convocar também os carrascos que puseram fim à vida de Inês e informa-os para que se divirtam bastante antes da cerimónia pois não vão gostar da surpresa que eu próprio me vou encarregar de organizar.(silêncio)
Conselheiro (medroso e contrariado com a decisão) – Mais alguma coisa meu senhor?
Pedro (inflexível e determinado) – Não. Se for necessário mais alguma coisa ordeno que te chamem, podes ir.
This entry was posted
on quinta-feira, março 26, 2009
.