Olho a luz da lua no escuro da noite, cheira a campo, a flores de primavera e ao inicio de calor, cheira a sol, cheira a frescura e a paz. Sento-me no recanto do nosso jardim encantado, onde vivemos os momentos mais doces da nossa paixão! Vivo intensamente as recordações que avassalam o meu peito e jamais consigo imaginar que não voltaremos a repetir estes momentos!
Eu estou aqui, tão longe e tão perto do teu coração que me ama intensamente desde que os nossos olhos se tocaram, naquela noite onde tudo foi tão mágico, tão ilícito e tão confuso e nós não podíamos!... Eu era apenas uma pequena aia, na flor da juventude que acompanhava a sua ama no seu casamento. E tu? Tu eras o meu amo, aquele a quem eu devia vassalagem, respeito e todas as regras de cordialidade da época em que vivemos. Tu nunca poderias ter sido o amor da minha vida, Pedro, tu nunca poderias ser transformado no meu príncipe encantado, no homem da minha vida, no meu Romeu se eu fosse Julieta! Não! Nós não podíamos… e não pudemos, durante muito tempo, até a morte de minha ama, D. Constança, a quem sempre fui fiel.
Mas, o destino decidiu que o nosso amor poderia dar fruto e deu-nos a oportunidade de viver tudo apenas uma vez…
Depois, veio o mal que venceu o destino mas não o amor, apesar de morta o nosso amor sobrevive! Como te amo, Pedro.
Inês de Castro
Como se o nosso amor
depende-se do ardor
e nosso olhar
não pudesse mais te tocar
Estamos, entre...
a noite e o dia,
a morte e a vida.
Mas, unidos...
pelo amor
pelo fogo
pela paixão
e a pela perdição.
Quero-te assim, só para mim...
Sozinho me deixaste
abandonado me senti,
crueldade deste mundo,
fez perder-me de Ti.
Onde estás agora ?
Porque não voltas para me amar.
Sem ti, não há Primavera
mão há nada neste tudo
em que vivo.
Não passam de desabafos,
Tu não voltas,
Eu não te tenho.
Mas o nosso amor
permanecerá, pois é verdadeiro
e para sempre te vou amar.
Não és indiferente,
és essencial para o meu sorriso
mas, agora sinto-te ausente
e são os teus braços que procuro
quando me perco na minha mente.
Fazes-me desesperar
até ter o teu olhar
e se num passo te encontrar
prometo que não vou deixar
de te amar.
Preciso de ti,
aqui, ali ...
Preciso de ti, hoje, amanhã,
para sempre.
No entanto, nesta turma, tudo depende de tudo e de todos...
Assim, é na diferença e na diversidade que encontramos a igualdade, num espírito muito estimulado de união, solidariedade e interajuda que, como não poderia deixar de ser pelas particularidades descritas, dá origem a momentos de crispação e discórdia.
Pedros e Ineses de Portugal, preparados? Agarrem-se bem, vai começar a maior viagem de sonho e amor internacional...
O Rei D. Pedro I encontrava-se no átrio do palácio encismado nos seus pensamentos. Nesse momento, apressadamente, entra um dos seus conselheiros com notícias. O Rei quase que não o ouviu. Depois ordenou-lhe que se sentasse para falarem sobre o que já há algum tempo evitavam.D. Pedro I com determinação afirmou:
Pedro- Tu sabes o quanto a morte de minha amada Inês foi marcante na minha vida. Perdi tudo o que me dava razão para viver e, agora, sinto que falta algo que eu não consigo atingir.
Conselheiro- Mas meu Senhor! Vossemecê tem tudo o que deseja, não lhe falta rigorosamente nada. Tem filhos, tem mulheres [e quem dera a mim ter um 1/3 das que o requisitam - à parte], tem riqueza, tem poder, obedecem-lhe. Que quer mais o meu senhor?!
Pedro – Falta-me o que eu considero de mais importante na vida, o amor! Falta ter Inês do meu lado para que eu me sinta completo. A dor da morte de Inês avassala-me o peito sempre que olho para o campo e recordo a nossa casa, o nosso ninho de amor onde passei os melhores tempos da minha vida. E não era um palácio, não tinha criados mas tinha o que há de mais importante na vida, o amor. Sabes do que falo? (pausa)
Conselheiro (interrompe o silêncio) - Sei, apesar do que possa pensar eu sei o que o Senhor meu amo está a sentir. A mágoa e a revolta de ter perdido a mulher que amava. A raiva por seu pai, D, Afonso, lhe ter roubado parte da vida porém, não se pode deixar abater por mágoas passadas. Tem de encarar a realidade meu Rei, tal como sempre fez e sempre nos habituou. Tem um reino para governar e toda a população acredita no seu valor e na sua força.
Pedro (a mágoa começa a aflorar-lhe nos olhos) - Lembraste do dia em que Inês faleceu nas mãos daqueles carrascos miseráveis? No dia em que tudo deixou de fazer sentido? Aquele dia em que eu queria ter morrido com a minha amada?
Conselheiro (desnorteado, sem saber o que dizer) – Lembro sim. Dia terrível! Mas porquê recordar esse sofrimento agora?
Pedro (ignora a pergunta do conselheiro) – Nesse dia eu jurei vingança! Recordas-te disso? (a crueldade reflecte-se no olhar de D. Pedro I).
Conselheiro (com certo receio do que possa vir a seguir) – Esse olhar assusta-me. Em que pensa?
Pedro (determinado) – Eu tenho estado a pensar na forma mais justa de vingar a morte da minha amada. Já o faço desde o dia da minha coroação uma vez que, antes de ser nomeado Rei, nada poderia fazer pois não me eram concedidos os poderes de decisão que hoje me pertencem. E como tu disseste, um reino inteiro me deve obediência e vassalagem. Todos aqueles que desejaram a morte de minha Inês por preconceito social, inveja ou pelo que for, todos esses vão estar presentes na minha derradeira revolta.
Conselheiro – mas … meu senhor? Já passaram tantos anos, as pessoas já esqueceram. Para quê mexer no passado? Isso só o fará sofrer ainda mais… E nada do que possa ordenar fará com que D. Inês volte.
Pedro – Tens razão! Nada me trará Inês mas poderei trazer de volta toda a sua dignidade que ficou perdida naquele mesmo dia! E … meu caro, o sofrimento que eu sinto vou sentir para sempre e é o mesmo desde aquele dia!
Conselheiro (arrependido do que dissera) – Peço desculpa! (silêncio)
Conselheiro - Que pensa fazer?
Pedro (altivo) – coroar Inês, fazê-la rainha deste Reino!
Conselheiro (surpreendido) – Mas como? Desculpe o que lhe vou dizer, mas ela está morta!
Pedro (revoltado) – Está morta para todos vós, filhos de ninguém e de pouca fé. Para mim, Inês encontra-se viva, não presente de corpo mas de espírito.
Conselheiro (medroso dado o tom de voz em que D. Pedro I lhe falara) – Descuullppee!(silêncio)
Pedro (determinado) – Eu ordeno que, o corpo de Inês seja retirado do túmulo onde se encontra. E que sejam construídos dois túmulos, que fiquem frente a frente, para que no dia do juízo final eu me encontre com a minha amada.
Conselheiro (estupefacto) – Não acha essa ideia um pouco estranha? O corpo de D. Inês provavelmente estará degradado neste momento! Seria penoso para quem o fosse retirar do túmulo e, além disso, ninguém viria a uma cerimónia destas! Provavelmente, ninguém concordará com isso e aqueles que desejaram a sua morte não vão apoiar a sua coroação mesmo depois de falecida.
Pedro (indignado) – Quem és tu para me dizer o que eu devo ou não fazer? Quem és tu para me julgar! Não passas de um mero criado. (silêncio)
Pedro (apesar de arrependido do que dissera, simplesmente baixa o tom de voz porém continua altivo) – Eu ORDENO que o corpo de Inês seja retirado do seu túmulo. Estás encarregue de organizar a cerimónia de coroação. Convoca todos os nobres do Reino, eles têm de estar presentes…
Conselheiro (interrompe) – Mas …
Pedro (ignora a interrupção) – Obriga-os a estar presentes, se fôr necessário ameaça-os de perderem todos os seus direitos ou bens, eles têm de estar presentes.
Conselheiro (submisso) – Sim meu Senhor. Mas para quando deseja a cerimónia?
Pedro – Para o próximo dia 25 de Abril .
Conselheiro (atrapalhado) – Já? Mas meu Rei assim não dará tempo para organizar tudo como pretende.
Pedro (decidido) – Sim. Nessa data tem de estar tudo pronto.(Pedro continua a falar quase que em monólogo visto que, o conselheiro simplesmente aceitava as ordens divagadas, apontando-as num papel para não se esquecer de coisa alguma e sem nunca pronunciar uma única palavra que contrariasse a vontade do Rei)
Pedro (altivo) – Quero que Inês seja arranjada com ligas, que a sentem no trono, que é o seu devido lugar, a mão tem de estar pousada para que, todos a possam beijar. Ordeno também às aias que a vistam com um dos melhores e mais ricos vestidos que alguma vez já se viu neste reino, a enfeitem com jóias e outros acessórios valiosos para que seja realçada toda a sua beleza. O vestido pretendo que seja de cor clara, assim irá salientar toda a sua pureza e lealdade interior. (pausa)
Pedro (continua) – Não te esqueças de convocar também os carrascos que puseram fim à vida de Inês e informa-os para que se divirtam bastante antes da cerimónia pois não vão gostar da surpresa que eu próprio me vou encarregar de organizar.(silêncio)
Conselheiro (medroso e contrariado com a decisão) – Mais alguma coisa meu senhor?
Pedro (inflexível e determinado) – Não. Se for necessário mais alguma coisa ordeno que te chamem, podes ir.
Inês – Meu Pedro, porque não chegas? Preciso tanto de ti ao meu lado, agora! ... Agora e sempre meu amor! Será que este destino malvado nos vai separar? Eu preciso de te sentir, preciso do conforto da tua voz! Preciso de te dizer, mais uma vez o quanto te amo!
Inês – Pedro … – (disse Inês enquanto Pedro caminhava para a saída).
Pedro – Sim meu amor! – exclama Pedro olhando para trás antes de se retirar, com um sorriso cheio de amor e ternura.
Inês – Prometes que voltas até a tarde findar? Sei que pode ser pouco tempo de caça para ti, mas hoje tenho medo de estar sozinha, preciso de sentir a tua protecção, de te sentir junto a mim.
Pedro – Não te preocupes minha Inês! Estarei aqui o mais rápido possível, como sempre tento estar. Agora tenho de partir meu amor, cuida dos nossos filhos, dos frutos do nosso amor. Até logo, Amo-te Inês! – Despede-se voltando para trás para lhe dar um beijo de despedida e saindo do claustro.
Inês – Vou esperar aqui por ti, estarei neste mesmo local à tua espera! Adeus meu amor. Amo-te Pedro! – Despede-se em voz alta e com as lágrimas nos olhos, lágrimas de medo e de amor.
Entretanto, um carrasco de D. Afonso IV ouviu esta despedida e apressou-se a informar o Rei que Inês estaria sozinha até o anoitecer, oportunidade perfeita para este seguir com o seu plano.Já se fez noite e Inês aguardava ansiosamente por Pedro no pátio de sua casa como o combinado, com uma energia tal como se o cansaço não se atrevesse a invadir-lhe o corpo. Entretanto, duas aias surgem diante Inês:
1ª Aia – Senhora, já se faz noite, dá-me licença para deitar os seus filhos?
Inês – Sim, leve-os para o quarto que eu já lá vou despedir-me deles, como todas as noites – disse com um sorriso cheio de ternura e amor pelos seus filhos.
2ª Aia – Minha senhora, se me dá licença, não é melhor entrar e descansar um pouco?
Inês – Daqui a pouco já vou, Pedro disse que vinha antes do anoitecer mas atrasou-se. Ide enquanto, se Pedro não aparecer entretanto, eu retiro-me também. (retorquiu com um ar bastante preocupado e com tristeza no olhar).
As aias e os seus filhos retiraram-se e Inês ficou sozinha no claustro, no meio da escuridão imensa que invadia o seu corpo e do frio que passava incessantemente para a sua alma.
Inês liberta uma lágrima de amor e de alegria, e sussurra com uma voz doce e pura:
Inês – Tenho tanto medo de te perder Pedro! (diz com um medo intenso expresso na sua face branca e rosada).
Pedro – Inês, nada nem ninguém vai destruir aquilo que está destinado a ser eterno, o nosso amor permanecerá para sempre, sempre! (exclama com uma voz suave, acariciando o rosto da sua amada).
Inês – Mas…o teu pai quer-nos separar, quero dizer, as pessoas todas estão contra nós Pedro! Temo muito por nós, mas principalmente pelos nossos filhos (olha para eles com um ar terno e uma lágrima no canto do olho), eles são tão indefesos…
Pedro – Nada lhes acontecerá… nem a eles, nem a nós. Não te preocupes minha bela Inês, nós somos uma família, e assim continuaremos a ser. Um amor como o nosso merece ser vivido, e não matá-lo com todos esses receios e com a interferência desse povo e do meu pai! Não sei como vai ser o futuro, como vamos ser, o que vamos fazer, só sei que neste momento te Amo, Amo com todas as forças, como nunca ninguém vai amar alguém! (disse com um grande e tranquilizador sorriso nos lábios).
Inês – Oh Pedro, como te Amo! Sim, tens razão, vamo-nos deixar de preocupações e vamos viver o nosso amor, em paz e sem receios (surge com um sorriso nos seus belos lábios, mas ainda com uma ponta de receio).
Pedro agarra a cintura de Inês, e, juntos, olham para os seus filhos que continuam a brincar, indiferentes às preocupações e ao resto do mundo.
"A Paixão mais louca, da nossa História de Portugal.O tratamento dramático dos elementos que deram origem ao mito, trazem uma nova dimensão às personagens deste drama. Inês de Castro uma mulher profundamente apaixonada por D. Pedro. Mas que tem um plano político e a inteligência e determinação para o aplicar. Até a morte brutal que o interesse do Reino lhe impõe. D. Pedro, após viver a paixão com Inês, não mais perdoará a quem lha tirou. Governará obcecado pela vingança, pairando entre o mel das memórias e a dor da eterna, definitiva ausência da sua grande paixão. Até à vingança final, efémera. "
REALIZADOR
José Carlos de Oliveira
INTÉRPRETES
Cristina Homem de Mello, Heitor Lourenço, Carlos Cabral, Afonso Melo, Rogério Jacques, Jorge Parente, Peter Michael, Carlos Aurélio, Alberto Villar, Isabel Neves, António Semedo, Manuela Carona, Rui Filipe Torres, Leonor Lains
Pedro e Inês
Até ao fim do mundo
A nossa peça, elaborada com muito carinho e diversão a mistura :)
E o resultado foi fantástico, os parabéns vão para os nossos actores !
Dom Pedro I (O justiceiro/cru)
Apesar do amor que sentia por Inês de Castro, Dom Pedro manteve-se fiel à sua esposa. Apôs a morte de D. Constança, D. Pedro, passa a viver com dona Inês o que provoca um grande conflito de interesses e de estado, tendo como consequência o assassínio de sua amada. Desolado, D. Pedro revolta-se contra seu pai, destruindo diversas terras.
Em 1355, alcançou a paz com seu pai através de um contrato.
Sobe ao trono em 1357, distinguindo-se pela aplicação da justiça de uma forma rigorosa.
Jaz na capela-mor da igreja do Mosteiro de Alcobaça desde 1367, ao lado de Dona Inês de Castro.
Inês de Castro
Jaz na capela-mor da igreja do Mosteiro de Alcobaça ao lado de D. Pedro.
Inês de Castro ficou na História por ter sido aclamada rainha depois de morta.
Nos tristes sons, que a mágoa desafina,
Envia o terno Elmano à terna Ulina,
Em cujos olhos seu prazer consiste.
Paixão, que, se a sentir, não lhe resiste
Nem nos brutos sertões alma ferina,
Beleza funestou quase divina,
De que a memória em lágrimas existe.
Lê, suspira, meu bem, vendo um composto
De raras perfeições aniquilado
Por mãos do Crime, à Natureza oposto.
Tu és cópia de Inês, encanto amado;
Tu tens seu coração, tu tens seu rosto...
Ah!, defendam-te os Céus de ter seu fado!
quando as águas do mar eram ainda águas sem medida revolvidas
e não como hoje são domésticas e mansas
quando os homens viviam na intimidade da sensibilidade e dilatavam
as narinas para aspirar profundamente o cheiro do suor
das mulheres quando após o esforço principia a arrefecer
e todas as palavras eram relativamente novas e caíam como pétalas
e não havia tantas tão miúdas minudências rodeando os corpos
O amor de Pedro e Inês
e a não deseja como um desejo que ultraja
e a não quer destruir só por um dia a possuir
História trágica e sobejamente conhecida. A paixão incondicional e trágica de Pedro e Inês tem sido tema de obras teatrais, narrativas e líricas. E o bailado não é a excepção que confirma a regra. A Companhia Nacional de Bailado voltou a apresentar, em Lisboa, no Teatro Camões, a sua interpretação para bailado de “O Amor de Pedro e Inês”, coreografada por Olga Roiz, que estreara a 4 de Julho de 2003 e que partira de um convite da Companhia Nacional de Bailado à coreógrafa Olga Roriz (...)”
D. Pedro I: Armando Possante, barítono
D. Inês de Castro: Sofia Inácio, bailarina
Grupo Vocal Olisipo - Direcção: Armando Possante
Encenação: Laureano Carreira
Desenho de Luzes: Pedro Martins
Coreografia- Sofia Inácio
Grupo de Música Contemporânea da Orquestra Sinfónica Juvenil
Direcção: Christopher Bochmann
Ver mais : RTP - Antena 2
“Pedro e Inês” estreou a 4 de Julho de 2003 e partiu de um convite da Companhia Nacional de Bailado à coreógrafa Olga Roriz (...)” in Magazine
Coreografia e Dramaturgia: Olga Roriz
Selecção Edição Musical: Olga Roriz
Cenário: João Mendes Ribeiro
Figurinos: Mariana Sá Nogueira
Desenho de Luz: Cristina Piedade
Sonoplastia: Bruno Gonçalves
Ver mais: Pedro e Inês - Trailer
Música interpretada por José Cid em 1968, no Festival da Canção alcançando o 3º lugar, com 43 pontos.
Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) nasceu em Setúbal, filho de um advogado e de uma senhora francesa. Vai para a Academia Real da Marinha aos 14 anos e embarca em serviço para a Índia em 1786. Vive dois anos em Goa, regressando a Lisboa com 25 anos de idade. Aí dedica-se a uma vida desregrada entre os botequins e as tertúlias literárias. Pertenceu à Nova Arcádia onde era conhecido pelo pseudónimo de Elmano Sadino. As suas relações com a Arcádia não foram pacíficas, tendo, ao afastar-se, lançado ataques contundentes nos seus versos. O seu pendor satírico levou-o à prisão do Limoeiro, conseguindo a transferência para o mosteiro de São Bento onde vem a falecer pobre e doente. As suas obras tiveram várias edições ainda em vida do poeta: Rimas, tomo I (1791), Rimas, tomo II (1799) e Rimas, tomo III (1804). Em 1811 foram publicadas as Obras Completas no Rio de Janeiro. Ficaram famosos os seus Sonetos, os seus Epigramas e os seus Apólogos
Luís Vaz de Camões, nascido em 1524/1525, de uma família provavelmente oriunda da Galiza, quando novo, rodou na órbita de centros aristocráticos (talvez mesmo a corte), e frequentou ao mesmo tempo a boémia de Lisboa.
No desempenho de um cargo de provedor defuntos e ausentes em Macau, naufragou, salvando a nado o manuscrito d` Os Lusíadas.
Em Goa, enredou-se em complicações que o levaram de novo á cadeia, por dívidas.
Em 1567, após tantos anos de estadia no Oriente, as dificuldades económicas afligiram-no mais do que nunca, um amigo nomeado como capitão para Moçambique adianta-lhe o pagamento das passagens, para Lisboa.
Após a publicação d` Os Lusíadas (1572) alcançou uma tença trienal, modesta, e nem sempre paga com regularidade.
Os últimos anos foram de miséria, segundo os testemunhos mais próximos.
Na poesia portuguesa contemporânea, conseguiu um lugar de destaque, mas também exerceu intensa actividade de ensaísta e crítico literário.
Depois de ter emigrado para o Brasil, voltou para Portugal onde se formou em medicina, pela Universidade de Coimbra (1933).
Durante o período Salazarista, desenvolveu uma significativa intervenção politica e cívica, que chegou a valer-lhe a prisão e a apreensão de vários dos seus livros. Em termos literários, participou no grupo da revista coimbrã “Presença”, colaborou com a “Revista de Portugal” e dirigiu as revistas “Manifesto” e “ Sinal”.
Recebeu vários prémios destacando-se em 1976, o Grande Prémio Internacional de Poesia e em 1981 o Prémio Montaigne.
Inda aos piedosos Céus andas pedindo
Justiça contra os ímpios matadores;
Ouvem-se inda na Fonte dos Amores
De quando em quando as náiades carpindo;
E o Mondego, no caso reflectindo,
Rompe irado a barreira, alaga as flores:
Inda altos hinos o universo entoa
A Pedro, que da morte formosura
Convosco, Amores, ao sepulcro voa:
Milagre da beleza e da ternura!
Abre, desce, olha, geme, abraça e c'roa
A malfadada Inês na sepultura.
Antes do fim do mundo, despertar,
Sem D. Pedro sentir,E dizer às donzelas que o luar
E o aceno do amado que há-de vir...
E mostrar-lhes que o amor contrariado
Triunfa até da própria sepultura:O amante, mais terno e apaixonado,
Ergue a noiva caída à sua altura.
E pedir-lhes, depois fidelidade humana
Ao mito do poeta, à linda Inês...À eterna Julieta castelhana
Do Romeu português.
Nasceu em meados de 1470 e morreu em 1536. Filho de Francisco de Resende e de Beatriz Bota, porém fora criado pelo Bispo de Évora, Senhor D. Garcia de Meneses. Garcia de Resende animou a vida cultural da corte.
Uma das suas qualidades dons era transformar os seus sentimentos em versos e o seu maior objectivo era preservar a poesia da época, por este motivo organizou o Cancioneiro Geral, por volta de 1516, que reúne mais de mil composições poéticas em Português e Castelhano. A maioria das composições poéticas é amorosa e satírica, da autoria de poetas do século XIV até o século XVI.
Em Miscelânia e Variedade de Histórias de 1554, apresenta esboços históricos da vida nacional e internacional do seu tempo, escritos em verso.
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.
Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fernosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.
De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas,
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co sangue só da morte ladina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra hûa fraca dama delicada?
Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,
Pera o céu cristalino alevantando,
Com lágrimas, os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos);
E despois, nos mininos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfindade como mãe temia,
Pera o avô cruel assi dizia:
(Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento
Como co a mãe de Nino já mostraram,
E cos irmãos que Roma edificaram:
ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar hûa donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.
E se, vencendo a Maura resistência,
A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida, com clemência,
A quem peja perdê-la não fez erro.
Mas, se to assi merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente.
Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, co amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.)
Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra hûa dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais e cavaleiros?
Qual contra a linda moça Polycena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co ferro o duro Pirro se aparelha;
Mas ela, os olhos, com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha),
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:
Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que despois a fez Rainha,
As espadas banhando e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, fervidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.
Bem puderas, ó Sol, da vista destes,
Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia !
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes.
Assi como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lacivas maltratada
Da minina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, co a doce vida.
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores.
Luís Vaz de Camões (Os Lusíadas, Canto III, 118 a 135)
tão cru e sem piedade,
que lhe não cause paixão
uma tão grã crueldade
e morte tão sem razão?
Triste de mim, inocente,
que, por ter muito fervente
lealdade, fé, amor
ao príncipe, meu senhor,
me mataram cruamente!
A minha desaventura
não contente d’acabar-me,
por me dar maior tristura
me foi pôr em tant’altura,
para d’alto derribar-me;
que, se me matara alguém,
antes de ter tanto bem,
em tais chamas não ardera,
pai, filhos não conhecera,
nem me chorara ninguém.
Eu era moça, menina,
por nome Dona Inês
de Castro, e de tal doutrina
e virtudes, qu’era dina
de meu mal ser ao revés.
Vivia sem me lembrar
que paixão podia dar
nem dá-la ninguém a mim:
foi-m’o príncipe olhar,
por seu nojo e minha fim.
Começou-m’a desejar
trabalhou por me servir;
Fortuna foi ordenar
dous corações conformar
a uma vontade vir.
Conheceu-me, conheci-o,
quis-me bem e eu a ele,
perdeu-me, também perdi-o;
nunca té morte foi frio
o bem que, triste, pus nele.
Dei-lhe minha liberdade,
não senti perda de fama;
pus nele minha verdade,
quis fazer sua vontade,
sendo mui formosa dama.
Por m’estas obras pagar
nunca jamais quis casar;
pelo qual, aconselhado
foi el-rei qu’era forçado,
pelo seu, de me matar.
Estava mui acatada,
como princesa servida,
em meus paços mui honrada,
de tudo mui abastada,
de meu senhor mui querida.
Estando mui de vagar,
bem fora de tal cuidar,
em Coimbra, d’assossego,
pelos campos do Mondego
cavaleiros vi somar.
Como as cousas qu’hão de ser
logo dão no coração,
comecei entristecer
e comigo só dizer:
“Estes homens onde irão?”
E tanto que perguntei,
soube logo qu’era el-rei.
Quando o vi tão apressado,
meu coração trespassado
foi, que nunca mais falei.
E quando vi que descia,
saí a porta da sala,
devinhando o que queria;
com grão choro e cortesia
lhe fiz uma triste fala.
Meus filhos pus de redor
de mim com grande humildade;
mui cortada de temor
lhe disse: - “Havei, senhor,
desta triste piedade!
“Não possa mais a paixão
que o que deveis fazer;
metei nisso bem a mão,
qu’é de fraco coração
sem porquê matar mulher;
quanto mais a mim, que dão
culpa não sendo razão,
por ser mãe dos inocentes
qu’ante vós estão presentes,
os quais vossos netos são.
“E tem tão pouca idade
que, se não forem criados
de mim, só com saudade
e sua grande orfandade
morrerão desamparados.
Olhe bem quanta crueza
fará nisto Voss’Alteza,
e também, senhor, olhai
pois do príncipe sois pai,
não lhe deis tanta tristeza.
“Lembre-vos o grand’amor
que me vosso filho tem,
e que sentir grã dor
morrer-lhe tal servidor
por lhe querer grande bem.
Que, s’algum erro fizera,
fora bem que padecera
e qu’estes filhos ficaram
orfãos tristes e buscaram
quem deles paixão houvera;
“Mas, pois eu nunca errei
e sempre mereci mais,
deveis, poderoso rei,
não quebrantar vossa lei,
que, se morro, quebrantais.
Usai mais de piedade
que de rigor nem vontade,
havei dó, senhor, de mim,
não me deis tão triste fim,
pois que nunca fiz maldade!”
El-rei, vendo como estava,
houve de mim compaixão
e viu o que não olhava:
qu’eu a ele não errava
nem fizera traição.
E vendo quão de verdade
tive amor e lealdade
ao príncipe, cuja são,
pôde mais a piedade
que a determinação.
Que, se m’ele defendera
que seu filho não amasse,
e lh’eu não obedecera,
então com razão pudera
dar-m’a morte qu’ordenasse;
mas vendo que nenhum’hora,
dês que nasci até’gora,
nunca disso me falou,
quando se disto lembrou,
foi-se pela porta fora.
Com seu rosto lagrimoso,
co propósito mudado,
muito triste, mui cuidoso,
como rei mui piedoso,
mui cristão e esforçado.
Um daqueles que trazia
consigo na companhia,
cavaleiro desalmado,
de trás dele, mui irado,
estas palavras dizia:
“-Senhor, vossa piedade
é digna de repreender,
pois que, sem necessidade,
mudaram vossa vontade
lágrimas duma mulher.
E quereis qu’abarregado,
com filhos, como casado,
estê, senhor, vosso filho?
De vós mais me maravilho
que dele, qu’é namorado.
“Se a logo não matais,
não sereis nunca temido
nem farão o que mandais,
pois tão cedo vos mudais
do conselho qu’era havido.
Olhai quão justa querela
tendes, pois, por amor dela,
vosso filho quer estar
sem casar e nos quer dar
muita guerra com Castela.
“Com sua morte escusareis
muitas mortes, muitos danos,
vós, senhor, descansareis,
e a vós e a nós dareis
paz para duzentos anos.
O príncipe casará
filhos de benção terá,
será fora de pecado;
qu’agora será anojado,
amanhã lh’esquecerá.”
E ouvindo seu dizer,
el-rei ficou mui torvado
por em tais estremos ver,
e que havia de fazer
ou um ou outro, forçado.
Desejava dar-me vida,
por lhe não ter merecida
a morte nem nenhum mal:
sentia pena mortal
por ter feito tal partida.
E vendo que se lhe dava
a ele tod’esta culpa,
e que tanto o apertava,
disse àquele que bradava:
“-Minha benção me desculpa.
Se o vós quereis fazer,
fazei-o sem mo dizer,
qu’eu nisso não mando nada,
nem vejo essa coitada
por que deva de morrer.”
Dous cavaleiros irosos,
que tais palavras lh’ouviram,
mui crus e não piedosos,
perversos, desamorosos,
contra mim rijo se viram;
com as espadas na mão
m’atravessam o coração,
a confissão me tolheram:
este é o galardão
que meus amores me deram.
Assim como o pranto
Se tece na rosa
Assim como o trono
E como o espaldar
Foi igual o modo de a chorar
Só a morte trouxe
Todo o veludo
Na corte da roupa
No cinto justo
Também com o choro
Lhe deram um estrado
Um firmal de ouro
Um corpo enxumado
O vestido dado
Como a choravam
Era de brocado
Não era escarlata
Também de pranto
A vestiram toda
Era como um manto
Mais fino que roupa.
Fiama Hasse Pais Brandão, Barcas Novas (1967)
Inês morreu e nem se defendeu
Da morte com as asas da andorinha
pois diminuta era a morte que esperava
aquela que de amor morria cada dia
aquela ovelha mansa que até mesmo cansa
olhar vestir de si o dia a dia
aquele colo claro sob o qual se erguia
o rosto envolto em loura cabeleira
pedro distante soube tudo num instante
que tudo terminou e mais do que a inês
o frio ferro matou a ele
Nunca havia chorado é a primeira vez que chora
agora quando a terra já encerra
aquele monumento de beleza
que pode pedro achar em toda a natureza
pode pedro esperar senão ouvir chorar
as próprias pedras já que da beleza
se comovam talvez uma vez que os humanos corações
consentiram na morte da inocente inês
E pedro pouco diz só diz talvez
satanás excedeu o seu poder em mim
deixem-me só na morte só na vida
a morte é sem nenhuma dúvida a melhor jogada
que o sangue limpe agora as minhas mãos cheias de nada
ó vida ó madrugada coisas do princípio vida começada logo terminada
Ruy Belo